Fabiano Nunes repórter do DIÁRIO DE SÃO PAULO,faz matéria com o eng,urbanista Vagner Landi,sobre a Avenida Celso Garcia
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CIDADES 12/09/2010 20h04
Celso Garcia, a avenida fantasma da Zona Leste
Via que faz a ligação da Penha com a região central da capital está repleta de prédios abandonados e decadência espalhada em seus 6,5 quilômetros de extensão. Na prática, ela não passa de um grande corredor de ônibus
Fabiano Nunes
Casarões abandonados, asfalto sem recapeamento, área comercial decadente. Não é de hoje que a Avenida Celso Garcia, que liga a Zona Leste ao Centro de São Paulo, vive dias de abandono. Desde a década de 1980, quando as grandes indústrias começaram a sair da região, o local tem vivido um vertiginoso sucateamento. Várias administrações ensaiaram uma reformulação, mas até hoje os projetos não saíram do papel. Arquitetos defendem uma operação urbana para revitalizar a região.
Nos últimos anos, houve vários projetos para um novo corredor de ônibus. Chegou a ser promessa de campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM), que abandonou a ideia. Um novo projeto para instalação de um metrô na região está em andamento. Segundo a Prefeitura, o novo metrô deve seguir paralelo à Linha 3-Vermelha, partindo do Parque D. Pedro, no Centro, até o Itaim Paulista, na Zona Leste, passando pela Penha e por São Miguel Paulista. Parte da verba para a obra foi garantida por meio de emenda parlamentar, mas ainda não há prazo para seu início.
“Uma das saídas seria construir um monotrilho numa via paralela entre a Celso Garcia e a Marginal Tietê. Esse novo sistema pode interagir com o trem e o metrô e desafogar a linha vermelha, que está no limite de sua capacidade”, defende o arquiteto e urbanista João Valente, do Instituto de Engenharia.
Segundo ele, a obra seria revolucionária e resgataria a Celso Garcia como uma via de interesse comercial e de serviços. “A avenida se transformou numa estrada urbana devido à quantidade de ônibus. O mais interessante é que basta andar um quarteirão além da Celso Garcia e você tem qualidade urbana preservada”, diz.
Um antigo casarão, localizado na altura do número 800, é um dos símbolos do descaso com a via. O local foi sede de uma delegacia até a década de 1970. Depois, transformou-se em cortiço e voltou a ser abandonado. “A promessa é que seja transformado numa Casa de Cultura. Seria ótimo, pois a região tem poucas opções de lazer. Mas até agora, o projeto está parado”, lamenta Maria Salomé Barros Felipe, de 63 anos, coordenadora de projetos da Associação de Moradores do Conjunto Residencial que fica ao lado do casarão.
O Parque do Belém, que será instalado no terreno onde funcionava a Febem, é outro exemplo de promessa de revitalização para a região que não avançou. O projeto foi lançado em 2006, após a desativação da unidade, e prevê uma área de lazer com 230 mil metros quadrados com campos de futebol, quadras, ciclovias e bosque.
Maternidade Cristo Rei vira abrigo para mendigos
O prédio do Hospital e Maternidade Cristo Rei, localizado na esquina da Rua Dr. Raul Rocha Medeiros com a Avenida Celso Garcia, é um dos símbolos do abandono da região. A unidade foi por muitos anos referência para os moradores do Tatuapé. Hoje, transformou-se em abrigo para moradores de rua e depósito de lixo e entulhos. A comerciante Cristina Scarabello, de 35 anos, tem motivos para lamentar o fechamento da unidade. Foi lá que há 13 anos ela teve um dos seus filhos. Sua padaria, que fica em frente ao prédio, perdeu preciosos clientes após o abandono total. “O hospital faliu após a morte do dono.
Os filhos passaram a administrar a maternidade, mas poucos anos depois ela faliu”, lembra. Os prédios comerciais ao lado do hospital passaram a ser abandonados em seguida. Do outro lado da rua, o imóvel onde antes funcionava uma farmácia, também está fechado. Ao lado da padaria há nove salões comerciais. Atualmente um deles abriga um comitê político, e outro, um boteco. Os demais espaços estão fechados. “Nenhum comércio que começa a funcionar ao lado do hospital vai para frente. É um pedaço bem difícil para trabalhar. Esse trecho da avenida virou uma área só de passagem para ônibus”, afirma a comerciante. Durante à noite, a região fica mal iluminada. “Minha padaria funciona 24 horas, mas depois das 22h, essa região fica completamente abandonada. Parece um deserto. É difícil caminhar por aqui à noite. Há muitos casos de assalto”, lamenta Cristina.
Uma operação para ressuscitar a Celso Garcia
A Avenida Celso Garcia está esquecida desde o governo do prefeito Faria Lima (1965/1969) e precisa passar por uma operação urbana. A intervenção tem o objetivo de alcançar transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental, ampliando os espaços públicos, organizando o transporte coletivo e implantando programas habitacionais de interesse social, além de melhorias de infraestrutura no sistema viário. A operação urbana poderia facilitar a reintegração e demolição de imóveis devedores de IPTU, por exemplo.
A Celso Garcia precisa de um plano que promova a reestruturação do trânsito, com viadutos ligando ruas e avenidas de maior fluxo. Com a reurbanização, a avenida também deveria ganhar uma ciclovia e um corredor para motos. A ligação das Avenidas Celso Garcia e Amador Bueno através de um túnel de 1.540 metros poderia aliviar o tráfego.
Defendo um projeto que prevê a união das operações urbanas para as duas avenidas. Com essa intervenção, o retorno de investimento é rápido para os cofres públicos com o aumento de arrecadação do IPTU. O potencial construtivo para as quadras de imóveis aumenta quatro vezes com a operação. Isso trará de volta hospitais, faculdades e grandes lojas ao redor da avenida, revitalizando e ressuscitando a famosa Celso Garcia da década de 1960.